Um concerto especial de Natal encerrou, na noite de domingo (22), o XVIII Festival de Ópera do Theatro da Paz. A Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz (OSTP) e um coro com 40 vozes executaram "O Messias", um oratório em três partes do compositor alemão naturalizado britânico Georg Friedrich Handel (1685-1759). A realização é do Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Cultura (Secult), em parceria com a Academia Paraense de Música (APM), Theatro da Paz e patrocínio do Banpará.
A apresentação foi realizada no palco do Theatro, democratizando o acesso à música clássica ao público interessado e contou com a presença de moradores do bairro da Cabanagem, inseridos em ações do Programa Territórios Pela Paz (TerPaz), muitos indo pela primeira vez ao Theatro. O encerramento também recebeu 22 alunos concluintes do convênio da Escola Estadual Santana Marques, que assistiram ao espetáculo de beca e, no final, posaram para fotos na tradicional escadaria do Da Paz.
Shirley de Jesus, 45, aluna concluinte do ensino médio, sonha em se tornar psicóloga e contou que foi uma felicidade dividir esse momento com seus colegas e professores no Theatro da Paz.
"É uma dupla alegria. Concluir o ensino médio e comemorar essa vitória assistindo a um espetáculo como esse é para poucos, pois a maioria de nós, da periferia da cidade, não tem acesso. Precisamos agradecer e parabenizar não só os colegas que conseguiram chegar até aqui, mas os nossos professores, que tanto nos ajudaram compreendendo nossas dificuldades, e ao Governo do Estado, que possibilitou a ocupação dos espaços públicos pelo povo", frisou a estudante.
Com 51 movimentos divididos em três partes, “O Messias” apresenta relatos sobre Jesus Cristo que vão desde a anunciação profética, nascimento, vida, passando pela morte até a ascensão aos céus, quando há a culminância do coro entoando Aleluia, demonstrando a alegria pela vitória do Filho de Deus sobre a morte. A versão paraense teve apenas 29 partes e a participação de importantes solistas, como o cantor lírico Homero Velho (baixo/barítono), Mário Ícaro Ferreira (tenor), Liliana Virgínia (mezzo-soprano) e Hosana Ramos (soprano).
De acordo com o maestro titular da OSTP, Miguel Campos Neto, “O Messias” é uma das colunas de sustentação da música erudita ocidental, tão importante quanto a Sinfonia n.º 9, de Beethoven. “O Messias é uma daquelas obras que agrada em todos os níveis, tanto os escolásticos quanto apenas apreciadores de música, isso é a marca de uma obra-prima", ressaltou.
História
Segundo o diretor do Theatro da Paz e do Festival de Ópera, Daniel Araújo, Handel compôs uma obra completa, feita para orquestra, coro e solistas, com todos os naipes de solo e impressionante genialidade em sua composição, que chega no limite do que o período barroco conseguiu produzir de melhor, assim como Johann Sebastian Bach.
"No período barroco, a presença da igreja era extremamente forte e, por esse motivo, a obra de Handel era muito voltada à questão religiosa. Acredito que ele buscava conexão espiritual, além de vasculhar em nossas raízes mais íntimas as emoções mais sublimes que nos conectam a essa divindade maior. Ele desperta uma espiritualização e a consciência de que existe algo para além do que somos", disse Daniel Araújo. Para o diretor, proporcionar isso aos espectadores é fundamental. "É emocionante participar desse momento em que o público paraense pode estar fisicamente no ambiente onde se toca essa música e ser impactado por essa genialidade", revelou.
Novo formato – Em 2019, o Festival de Ópera estreou com uma nova roupagem, deixando de ser uma mostra e apresentando um modelo mais amplo e contínuo, distribuído ao longo de seis meses (de agosto a dezembro), em cinco ações distintas: Temporada de Ópera, Formação, Temporada de Concertos, Teatro Musical e Itinerância.
Esse novo formato mudou o conceito da produção do Festival e propôs a diversificação temática abordada nos libretos das obras e em montagens tradicionais e contemporâneas, que foram selecionadas contemplando o drama, a ópera bufa, o verismo, temas políticos, ambientais, entre outros. Nesta edição, foram produzidos três títulos consagrados do repertório operístico internacional: Il Matrimonio Segreto, do compositor Domenico Cimarosa (1749 - 1801); Suor Angelica, de Giacomo Puccini (1858 - 1924), e Amahl e os Visitantes da Noite, de Gian Carlo Menotti (1911 - 2007).
Para a ação de Formação, foram selecionados, por meio de edital, 20 cantores líricos profissionais, que receberam uma grade de cursos ministrados até dezembro, dentro do I Curso de Formação em Ópera, e uma ajuda de custo de R$ 3.240,00, dividida em seis parcelas mensais. A ideia da Secult foi capacitá-los para que, em um futuro próximo, se tenha um corpo estável de ópera no Pará.
A intenção é que em 2020 o Festival passe a ser realizado durante o ano todo, ampliando o campo de trabalho para todos os artistas e técnicos envolvidos nas produções. A seleção do elenco e do corpo técnico priorizou a valorização de artistas locais, que já alcançaram grau de excelência em ópera. Grandes nomes do cenário operístico nacional e internacional também participaram das montagens do Festival, promovendo o intercâmbio de experiências e oferecendo ao público paraense espetáculos de alto nível artístico.
Números – De acordo com a organização do evento, o Festival conseguiu atingir as metas estabelecidas. A principal delas era ampliar o alcance, descentralizando as apresentações e facilitando o acesso do público, com ingressos que permitissem a participação de todos. E o público correspondeu ultrapassando as expectativas.
De agosto a dezembro, o XVIII Festival de Ópera do Theatro da Paz apresentou três montagens inéditas, com três récitas cada uma, além de seis concertos de apresentação única e um teatro musical com três espetáculos. Ao todo, foram 18 apresentações na capital e no interior, ao longo dos 129 dias de evento. O público também esgotou ingressos e mais de 10 mil pessoas circularam pelo Festival, que envolveu diretamente mais de 1.248 artistas e técnicos.
Para a secretária de Estado de Cultura, Ursula Vidal, os números mostram que a ópera já faz parte da cultura do belenense e tem aceitação popular. "Chegamos ao final do Festival de Ópera com a sensação de dever cumprido. Já temos no Pará um corpo técnico altamente qualificado para a produção operística e as nossas ações de incentivo e capacitação valorizaram ainda mais esses grandes talentos. A extensão do calendário de montagens e récitas também foi uma inovação positiva. Isso gerou uma ativação maior da cadeia produtiva da ópera ao longo do semestre, contabilizando números que nos enchem de alegria e resultados que nos orgulham”, destacou.
A secretária ainda agradeceu a todos que participaram da produção. “Gratidão às centenas de músicos, cenotécnicos, aderecistas, costureiras e produtores de cena envolvidos nas montagens dos musicais em 2019 e que fizeram desse Festival um exemplo a ser seguido. É qualificação e atividade econômica andando juntas", finalizou.