Na última terça-feira (5), o Preamar do Círio abriu sua terceira Estação com a exposição “Procissão de cartazes: a coleção de cartazes do Museu do Círio em 3 séculos (XIX, XX e XXI)”. A mostra, que traz ao público um dos maiores símbolos da manifestação religiosa e cultural do Estado, tem um formato hibrído porque pode ser visitada por meio do site museus.pa.gov.br e, de modo presencial, no prédio do Arquivo Público do Estado, no bairro do Campina, em Belém. A programação gratuita é uma realização do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Cultura (Secult).
Um dos primeiros visitantes da mostra, o estudante de direito, Ítalo Pinheiro, 24 anos, afirma que é impossível não perceber a evolução dos cartazes através dos séculos. “Acho que nós paraenses, temos a ilusão de que por sermos daqui sabemos tudo sobre esse grande evento cultural e religioso, mas ao contrário. Essa exposição mostra que estamos sempre aprendendo sobre esse evento. Tem muita história nesses cartazes. Outro ponto importante que observei foi a evolução do design de cada um. Interessante como a concepção de estética foi mudando e sempre revelando algo sobre aquele ano. Esta exposição é riquíssima e está de parabéns”, considera o estudante.
Com curadoria de Anselmo Paes, diretor do Museu do Círio; Leonardo Torii, diretor do Arquivo Público; e Nando Lima, da Coordenadoria de Curadoria e Montagem do SIMM, a mostra tem como um dos destaques o cartaz do Círio de 1878, o mais antigo já documentado, disponível em formato eletrônico em parceria com o Arquivo Público do Pará.
“Essa exposição é resultado de uma pesquisa muito grande que temos feito em parceria com o Arquivo Público, que atualmente guarda o acervo digital desses cartazes, então a exposição física não poderia ser feita em lugar mais apropriado. Atualmente estamos apresentando várias estações ligadas ao Preamar do Círio e essas estações tem o formato de cortejo, porque nós queremos visitar outros espaços e ampliar os limites e territórios dessa discussão de patrimônio ligada ao Círio. A exposição faz uma verdadeira viagem no tempo junto aos cartazes. Em nosso acervo o cartaz de 1878 é o mais antigo, que por acaso é uma data muito significativa porque representa um evento no Pará, chamado Círio Civil, em que a população toma a santa e mesmo sem a autorização da Igreja sai à rua, tendo uma procissão sem a participação dos sacerdotes. Então além de ser um documento muito antigo, ele é significativo, pois traz uma data importante da história”, explica Anselmo Paes.
Evolução dos cartazes
Ainda sobre o cartaz mais antigo do acervo do Museu do Círio, o curador destaca que é importante atentar para elementos que fazem referência aos “mitos” de origem do Círio de Nazaré, como o naufrágio que marca muito propriamente o Círio, pois nesta ocasião, conta-se que os tripulantes foram salvos após pedirem essa graça para Nossa Senhora de Nazaré, por exemplo.
Há também o milagre original em Portugal, o de Dom Fuas Roupinho. “Você nota que neste documento, há a “divulgação” de dois mitos originais sendo apresentados. Quando você chega no século XX, você vai ter a modernização dos cartazes e eles se mostram muito pela diversidade criativa, são os que mais trouxeram inovação, e que, às vezes, se afastam mais da imagem de nossa Senhora de Nazaré para mostrar outros símbolos e outras cores", observa o curador da exposição.
"Eles são extremamente coloridos. Já no século XXI você já tem uma intervenção maior dessa modernidade da imprensa e de algumas regras de desing e também levando em consideração que agora há uma empresa de propaganda que é responsável por ele, então vai haver uma maior padronização do desing do cartaz. Essa conclusão é fruto de nossas pesquisas, que não vão parar agora. Elas continuam. Isso aqui é só um momento de apresentação ao público, do nosso trabalho”, diz Anselmo Paes.
Mais história sobre os Cartazes
Ao longo dos anos, os cartazes basicamente têm sido feitos em papel e trazem informações rápidas, anunciam algo e esse anúncio se faz muito propriamente com imagens. Para o diretor do Arquivo Público, Leonardo Torii, estes elementos em papel, tradicionalmente afixados nas portas das empresas e casas dos paraenses, dizem muito sobre a época em que foram criados e refletem aquilo que a sociedade está pensando.
“Esse material sempre foi do Museu do Círio, mas começamos a trabalhar em parceria, desde o ano passado, com a preservação e conservação deles. Com os cartazes mais antigos nós fizemos o acondicionamento e agora para o Arquivo Público já são um documento arquivístico e um documento de pesquisa", comentou o diretor Torii.
O diretor do Arquivo Público acrescentou, ainda, que "então, mais importante para o Arquivo é a disponibilização dessas informações para o público em geral. Nós digitalizamos os mais de 200 cartazes que existem dentro do Museu do Círio, e a gente já pode disponibilizar para o pesquisador poder fazer sua pesquisa. Esses cartazes dizem muito sobre a época em que foram criados, então temos década 80 com suas características, o início do século XX, então os cartazes falam, refletem aquilo que a sociedade está pensando”.