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Secult lança o livro “Letras que Flutuam”, que registra a tipografia dos barcos da Amazônia

Por Thaís Siqueira (SECULT)
02/12/2021 21h20 - Atualizada em em 04/12/2021 14h09

Livro ″Letras Que Flutuam″ registra a tradição ribeirinha de pinturas de barcos da AmazôniaResgatar a tradição ribeirinha de pinturas dos nomes de barcos da Amazônia. Foi com esse objetivo que a autora Fernanda Martins criou sua obra literária, “Letras que Flutuam”, lançada nesta quinta-feira (2) na 24ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes. 

Levando em consideração a Amazônia em suas diversas manifestações, Fernanda explica que a tradição particular de pintar barcos com nomes levou ao estudo de conhecer a origem e seus componentes para entender os métodos empregados, além de dar voz aos chamados ‘abridores de letras’.Fernanda Martins com o livro ″Letras que Flutuam″

“O objetivo do livro é dar voz aos abridores de letras. Ele foi concebido a partir das falas deles próprios. Grande parte do livro são depoimentos dos abridores falando sobre o seu fazer, a sua história... e a partir disso construímos o livro, trazendo uma introdução do professor Loureiro e uma conclusão contando a história do projeto. Mas o livro em si é a fala do abridor sobre o seu saber”, conta Fernanda. 

Os abridores de letras são profissionais que colocam as letras e os nomes nos barcos, o que é considerada a etapa final do processo de construção do barco. “Uma característica que só existe na Amazônia”, ressalta a autora.

Para a designer Fernanda Martins, o Pará deve se orgulhar e valorizar sua cultura de letras e formas“Só existe ao longo do rio Amazonas. Ela é comunicada através do rio. O barco vai no município e influencia um rapaz de lá e o barco que ele pintou vai para outra cidade e influencia outro. É o rio que leva esse saber de um lado para o outro”, diz a designer. 

“Letras que Flutuam” tem como pano de fundo o cenário de cidades ribeirinhas como Belém, Macapá e Manaus e retrata a tipografia das embarcações da Amazônia feitas por abridores de letras. O estudo também propõe o conhecimento pela origem, área de abrangência e os métodos empregados pelas pessoas que se dedicam profissionalmente à atividade.

Durante a roda de bate-papo, os envolvidos no projeto do livro compartilharam histórias e vivências do processo de construção da obra. A designer enfatizou que o Pará deve se orgulhar e valorizar sua cultura de letras e formas. Fernanda também ressaltou a importância do lançamento do livro durante um evento tão grandioso como a Feira Pan-Amazônica. 

“O sentimento é de muita gratidão porque são 17 anos de trabalho que agora se consolidam em um livro que é pra sempre. E isso justo na Feira Pan-Amazônica que acontece aqui nesse local muito mais próximo dos bairros populares do que do centro da cidade. O locus dele é esse”, pontuou a pesquisadora. 

Cassio Tavernard, diagramador do livro, também comentou a relevância da obra que traz a cultura visual da Amazônia.

“Esse livro por si só já é considerado por mim um objeto sagrado. É um trabalho que eu trago com muita satisfação. É um objeto gráfico que trata da tipografia na Amazônia, então ele é meio metalinguagem: arte gráfica tratando da arte gráfica. Admiro o trabalho não só como diagramador, mas também como artista visual e designer. Lançar na Feira do Livro é muito bom, ainda mais quando é um projeto tão delicado e tão importante para a nossa gente”, destacou Cassio.
O encontro foi prestigiado pela secretária de Cultura do Estado, Úrsula Vidal, e teve a exposição do processo de construção topográfico de um barco pelas mãos do mestre abridor, Luís Junior.

Texto: Lilian Guedes / Ascom IOEPA