Para celebrar a importância da cultura negra na formação do povo brasileiro e promover uma reflexão sobre a ancestralidade africana, fundamental para a identidade do país e do Pará, o governo do Estado, por meio da Secretaria de Cultura (Secult), realiza o Preamar da Consciência Negra, um mês de programação diversa e plural, que reconhece e valoriza os saberes e fazeres do povo negro, que tanto contribuiu na construção da rica cultura paraense.
A data escolhida para iniciar a programação, o último domingo (3), foi Dia Estadual do Carimbó – aniversário de morte do grande compositor Mestre Verequete em 2009, considerado o Rei do Carimbó. A Secult preparou uma roda com o grupo Sancari (Pedreira), que iniciou às 17h, no Pier da Casa das Onze Janelas, em resposta aos movimentos culturais que propuseram a ocupação dos espaços públicos com o ritmo.
A programação reuniu o mestre Luiz Gonzaga, do Grupo Águas Lindas de Ananindeua; Silvan Galvão e os mestres do oeste do Pará; Curimbó de Bolso e mestre Félix; Chaves do Amendoim; Girard, Tomil Paixão e mestre Cuité, do Movimento Cultural da Marambaia. Para Silvan Galvão, paraense de Santarém, radicado no Rio de Janeiro, é uma honra participar da iniciativa de ocupar os espaços públicos com o carimbó.
"Ouvimos muito o turista reclamar que visitou Belém e não conseguiu ver o carimbó, enquanto no sudeste do país diversas iniciativas apresentam a nossa cultura. Projetos como esse fazem com que o nosso povo se aproxime de nossas tradições, as futuras gerações fortaleçam o sentimento de pertencimento e se apropriem do que é nosso. O que a gente quer não é ver o carimbó resistir, e sim se fortalecer em cada esquina", afirmou Silvan, que é cantor, compositor, percussionista, banjista e mestre de carimbó.
O ritmo foi trazido pelos escravos africanos, recebeu influências indígenas e europeias, especialmente ibéricas. São as atividades do cotidiano que dão origem às letras das músicas, pois nelas constam histórias do dia-a-dia de pescadores e agricultores que, ao final de uma jornada de intenso de trabalho, tinham o hábito de dançar ao som do tambor.
Agenda
No período de 3 a 30 de novembro, a programação do Preamar da Consciência Negra reúne apresentações musicais e cênicas, feiras, mostras, oficinas, seminários, majoritariamente, protagonizados por artistas negros e apoiados culturalmente pela Secult, descentralizando os eventos e trazendo à tona as vozes da periferia.
De acordo com a secretária de Estado de Cultura, Ursula Vidal, muito mais do que uma comemoração, o Preamar da Consciência Negra vem para mostrar a importância da luta preta.
"Não estamos aqui para ensinar nada a ninguém, jamais teremos essa pretensão. Queremos potencializar e dar escala às ações e projetos ligados às mais diversas manifestações e práticas culturais do povo preto. Estamos aqui para fomentar e o Preamar da Consciência Negra vem com essa missão, fortalecer a importância dos coletivos, suas práticas ancestrais, além da importância da tradição e da memória resguardada pelos nossos mestres e mestras", afirmou.
Dia da Consciência Negra – Comemorado em 20 de novembro em todo o país, foi criado em 2011 para reverenciar importantes expoentes da arte, e também estimular reflexões em torno do racismo. A data homenageia Zumbi, um dos principais representantes da resistência negra à escravidão na época do Brasil Colonial, um pernambucano que nasceu livre, mas foi escravizado aos 6 anos de idade.
Zumbi dos Palmares foi líder do Quilombo dos Palmares – comunidade livre formada por escravos fugitivos das fazendas –, comandando a resistência contra as tropas do governo. Após várias tentativas de destruir o quilombo, no dia 20 de novembro de 1695, aos 40 anos, Zumbi foi morto degolado, sendo considerado um dos grandes líderes de nossa história. Símbolo da resistência e luta contra a escravidão, defendia a liberdade de culto, religião e prática da cultura africana no Brasil. O dia de sua morte é lembrado e celebrado em todo o território nacional, como o Dia da Consciência Negra.
Confira aqui a programação Dia da Consciência Negra.